quinta-feira, 30 de maio de 2013

Uma ode às Polainas

Acho que eu descobri o que era uma Polaina quando tinha lá meus 10 anos e saiu no mercado a “Segunda Mochila da Polly”. Vinha umas roupas da Polly dançarina, ou algo do tipo, e no meio das saias e collants de ballet, lá estava um par de polainas roxas, que achei super inusitadas. Esquisitíssima aquela meia sem pé, mas ficava bonitinha com a saia da Polly, e eu gostava de colocá-las na bonequinha.

Passou, e eu nunca mais ouvi falar no assunto, tampouco vi alguém usando. Até que me mudei pra Curitiba. E continuava sem reparar nelas, até o dia em que a fez um post, sobre manifestos, e entre eles, dizia que gostaria de sair manifestando na Avenida Paulista às 6h da manhã pela volta da moda das polainas, porque ela sentia frio nas canelas e gostaria de poder usá-las novamente. Foi o momento em que eu li e pensei que andava vendo muitas ultimamente. Polainas são moda em Curitiba.

Em Curitiba é frio. Sendo assim, tudo o que te esquenta, é moda. E se não for moda, é aceitável. E no inverno você veste tudo o que te aparecer na frente, e vai continuar sendo estiloso. Aqui a galera usa aqueles tapa ouvidos peludos. Usa gorros com pompom em cima. Usa meias de pelúcia dentro das botas chiques. E usa polainas.

Desde que a Rê disse que precisaria manifestar para poder usá-las eu comecei a me sentir uma herege em poder usá-las e não usar. E passei a reparar mais, em todas as pessoas, e nas vitrines das lojas, e morria de vontade ter um par, mas nunca tinha parado pra comprar. Até que minha amiga saracoteou e saracoteou, me dizendo que precisava encontrar um presente de aniversário pra mim que eu amasse, e quase 1 mês depois da data apareceu com uma sacolinha branca, com um laço dourado. E quando eu abri lá estava: Um par de polainas cinza-claro lindíssimo. E eu quase chorei de amor. Luana não podia ter acertado tanto.

Bailarina que é, sempre usa polainas. Desfila uma coleção delas. E saiu comprar uma cinza-claro toda trabalhada, só pra me dar de aniversário. E desde então as pessoas contam nos dedos os dias que me viram sem minhas polainas. Eu comecei a brincar discretamente, testando a vida, e usando embaixo das botas. Só aparecia a bordinha cinza por cima do cano alto. Até que comecei a abusar e colocá-las em cima da legging, usando tênis. E por fim, saí com as mesmas por cima da calça jeans, evidenciando meu all star vermelho.

E agora eu descobri que um mundo com Polainas é muito mais feliz. Porque elas colorem mais a vida. Elas tem um nome delicioso de se pronunciar, é quase uma “Poliana” que deu errado. Elas são fofinhas de se olhar, dão um ar despojadinho em qualquer roupa, e ainda por cima, vejam só: Esquentam as canelas!

polainas

Não sei como vivi tanto tempo sem essa maravilha

domingo, 26 de maio de 2013

Era fatal que o faz de conta terminasse assim

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Me lembro dos meus primeiros dias de aula no teatro. O primeiro em São Paulo, quando meu amigo me convenceu e eu fui fazer pra brincar e morrendo de vergonha. O segundo quando eu já estava apaixonada e resolvi levar esse amor a sério, entrando em um curso regular de teatro. E desse segundo começo, céus, me lembro tão bem.

Me lembro das expectativas, dos medos, de assistir encantada às turmas dos módulos posteriores. Me vejo hoje, no próprio módulo posterior. O sexto. O musical. Aquele com o qual eu tanto sonhei, e tanto pânico tive, e que agora não é nem sonho, nem pânico. É presente, é o presente, é real.

Se tudo o que é bom dura pouco, tudo que é maravilhoso dura o tempo necessário para ser inesquecível. Cada um desses semestres com certeza o foi. Cada uma das alegrias e cada uma das crises. Mudanças, inter-relações… Tudo sempre gira. E as mudanças, por mais que pareçam assustadoras, sempre acontecem para o universo garantir que tudo esteja exatamente onde deve estar.

Foram 3 anos de um faz de conta, por vezes tão real e dolorido, mas ainda assim, sempre com aquele pé na magia, aquele pé de fazer algo diferente, aquele pé de carregar no peito a satisfação de saber como a arte é algo maravilhoso, de como o mundo seria um grande tédio se ela não existisse, de como a alma fica recheada vivendo em sua companhia, e em como ela é imprescindível mesmo que não saibamos exatamente para quê.

Faltam pouco mais de 30 dias para a estreia do musical. Pouco mais de 30 dias para a coroação desse fim do que já conhecemos, para o começo de uma fase nova. E nesses 30 dias a gente aproveita. Ama. Vive cada segundo intensamente, como ele deve ser vivido. E assim foi o dia de hoje.

Um domingo que, na vida de tantos, tão comum, na nossa, tão repleto. Um baile de máscaras ao sol de meio dia no meio de uma praia, com um sol que contrariava a todas as expectativas e que fez tudo ser brilhante. Tem nada não! Era só o universo confirmando que era fatal que o faz de conta terminasse assim.

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Que nosso faz de conta seja sempre alvo

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A problemática da baliza ou apenas um desabafo

Eu comecei a fazer auto-escola em fevereiro do ano passado. Com isso eu quero dizer que foi nesse mês que eu fiz minha inscrição. Desde então, tudo correu rápido. As aulas teóricas, que não foram tão insuportáveis porque a turma era legal e porque a professora me deixava ler a biografia da Clarice ao invés de prestar atenção nas aulas de mecânica. Passei de primeira em todos os testes, incluindo o tal do psicotécnico, onde a maioria da turma reprovou. Eu ouvi um: “Sua memória é acima do normal”, enquanto sorria e pensava que já sabia disso. Eu sei até hoje os desenhos que estavam naquele quadrinho. Só, claro, preciso avisar que minha memória é realmente sensacional para coisas que não são importantes, tipo isso. Ok que na hora da prova era importante, mas hoje, 1 ano e pouco depois, é muito desnecessário lembrar da imagem. E eu já estou saindo do assunto.

As aulas teóricas passaram, a prova teórica passou, as aulas práticas começaram e começou o pesadelo. Porque eu comecei a ter pavor do meu instrutor. E ele brigava. E eu chorava. E olha que eu nunca fui barbeira. Meu problema era embreagem. Mas eu tinha tanto medo do cara que já saía de casa chorando em dia que tinha aula, respirava fundo e rezava uns 3 Pai Nossos. E eu tinha pânico de pensar no dia que eu fosse aprender a tal da baliza.

BALIZA. Todo mundo sabe o que é, e já tem medo desde antes de ter tentado. Porque todas as pessoas que já dirigem reclamam disso. Ou reclamam da prova, ou estacionam em outros lugares pra “fugir da baliza”. É claro que isso seria o pesadelo. E eu fui tentar fazer a minha. E acertei. E acertei. E acertei tantas vezes que meu instrutor, aquele, do qual eu tinha pânico, me perguntou: “O que aconteceu com você hoje que não errou nada ainda?”. Eu não sabia se era um elogio ou uma crítica, dei um sorriso enorme enquanto engolia o choro ao mesmo tempo. E foi assim. Eu fui treinando e errando pouquíssimas. Suei 2 horas embaixo de sol fazendo balizas, e não errava quase nenhuma. Nasci pra fazer baliza, pensei.

25 de setembro chegou e com ele a data da minha prova, e eu acordei tranquila. Minha mãe me desejou boa sorte e me deixou na porta da auto escola. Estava nublado e frio. Eu entrei no caso, fiz umas balizas, e fui dirigindo até o Detran. Dirigindo e tomando bronca. Meu instrutor deve ser formado em psicologia, só que não, e disse que eu não ia passar. Eu entrei na prova na certeza de que ia me ferrar no trânsito, só que da baliza, logicamente, eu passaria.

Entrei no carro e como Murphy me adora, meu avaliador estava sendo avaliado, e portanto, eu teria dois! Olha que delícia. Um fora do carro, um dentro, eu liguei o carro, andei pra frente, comecei a dar ré, o carro morreu, respirei fundo, entrei na baliza, respirei fundo de novo, puxei o freio de mão. O avaliador abriu a porta do carro e disse: “Belezinha, pode sair”. Você saiu da vaga? Não. Nem eu. Simplesmente não consegui mais sair do lugar porque o carro morreu 3 vezes seguidas, eu comecei a chorar e já levantei do banco.

Segundo round, 21 de janeiro, porque eu fugi 4 meses do assunto como o diabo fugia da cruz. Óbvio que a essa altura todas as pessoas do mundo que começaram auto escola junto comigo ou muito depois de mim já estão com carteira na mão, menos eu. E lá fui eu naquele 21 de janeiro ensolarado, fazer a prova de novo. Dessa vez com o dobro de pânico, porque, afinal, tudo bem reprovar na primeira vez, mas duas, não. O cara que me levou pra fazer a prova não era meu instrutor, porque o meu, olha que delícia (não é ironia) estava de férias! E eu fui dirigindo até o Detran, bem de boa, e o cara falou: “Eu te dava a carteira na mão, você tá dirigindo muito direitinho!” e lá fui eu fazer prova com o coração acalmadinho. Sentei no carro, fiquei vendo a galera errar a baliza e pensando em como aquela vaga era enorme, não dava pra errar. O meu avaliador chegou, entrei no carro, andei com ele pra frente, ele  morreu, tentei dar ré, e ele morreu. 3 vezes. E fim.

Na minha primeira prova eu entrei na baliza e não consegui sair. Na segunda eu não consegui entrar e só de pensar nessa palavra eu começo a chorar. Quer me assustar? Diga BALIZA. Diga RÉ. Diga CARRO MORRENDO. DETRAN. AUTO ESCOLA. O qualquer coisa que o valha. Eu sempre fui Nerd. Dificilmente reprovei em alguma coisa que me prestei a fazer na vida. E essa porcaria virou meu pesadelo. Faltam exatamente 19 dias para a minha próxima prova. Eu vou passar nem que eu viva 19 dias em função de balizas e me entupa de floral. Porque senão, eu vou comprar uma bicicleta e utilizá-la pelo resto da vida. Esse atraso de vida não é de Deus e eu não aguento mais engolir seco toda hora que passo na frente de uma auto escola.

sábado, 18 de maio de 2013

A tudo o que eu disse que nunca iria fazer

Eu já disse “nunca” pra muita coisa. Todo mundo já disse. Eu já disse que nunca mais falaria com minha melhor amiga para no minuto seguinte estar abraçada com ela dizendo que nunca mais brigaríamos. Já disse que nunca tomaria um copo de suco de limão e acabei tomando quando essa era a única opção que me restava ao lado de um balde de pipocas que tinha me deixado morrendo de sede.

Já disse que nunca mais ia roer as unhas, que nunca ia achar que TCC era pior que vestibular, que nunca mais deixaria os trabalhos pra última hora. Já disse que nunca subiria em um palco (!), que nunca teria coragem de andar em uma montanha russa com loopings e que disse também que nunca sob-hipótese-nenhuma gastaria um mísero centavinho com joguinhos de facebook. E aqui acaba a poética desse post.

Cuspir pra cima não dá certo. A gravidade faz tudo cair bem no meio da nossa testa. Aprendemos lei da gravidade ainda na primeira parte do ensino fundamental, e ainda assim, teimamos em ignorá-la. Minha patologia facebookiana não foi grave, vejam bem. Joguei Farmville por um bom tempo e nunca cometi a barbaridade de gastar com aquilo. Estou encalhada no Bubble Witch saga há tanto tempo que já até esqueço de jogar. Nunca comprei mais músicas no Song Pop, e nem mais cores no Draw Something. Não pago para fazer o update dos meus aplicativos para a versão PRO só para que os anúncios não me encham o saco, e quando comecei a jogar Candy Crush sempre disse que não compraria algum bônus de jeito nenhum, pois se eu comprasse uma vez, nunca mais conseguiria viver sem.

Continuo com esse pensamento de “não vou comprar”, e zoei com a cara da minha amiga que gastou 1 dólar comprando 5 jogadas a mais para passar da fase 65, onde todo mundo encalha. E disse isso só porque eu tive uma sorte descabida nessa fase e passei praticamente direto por ela, enquanto via todo mundo preso. E eu segui a vida me achando muito boa no jogo, passando algumas raivas com os encalhamentos, mas no fim das contas, ultrapassando a fase e seguindo a vida. Até que eu encontrei a 133. E ela é difícil. Além de difícil, é chata. Nada acontece naquela porcaria, os listrados quase não ajudam, a geografia da fase dificulta e muito a sua vida, e depois de dias presa nela acabaram as minhas jogadas quando eu tinha uma bala vermelha e listrada no último quadradinho com gelatina da fase. Pra quem não sabe, (existe alguém que ainda não joga isso?) você tem que acabar com as gelatinas. E ali estava. Um vermelho listrado me separava da vitória. E eu não tinha mais jogadas, mas tinha um brigadeiro (melhor bala de todas) ao lado de uma bala vermelha, que faria a minha explodir, com a gelatina junto, e tudo seria feliz.

Eu podia e deveria ter clicado em “terminar” e recomeçar a fase, sonhando com o momento iluminado onde eu passaria dela sem gastar 1 dólar. podia sim. Mas quer saber? Não quis. Não quis porque eu gasto meu salário pra pagar meu IPhone, gasto meu salário comprando besteiras engordativas na cantina, gasto meu salário comprando livros e pagando o netflix. E quer saber? Decidi que podia sim gastar 1 dólar para comprar jogadas a mais que me fariam passar daquele monstro de fase e então eu conseguiria voltar a ser feliz em uma fase legal com milhões de balas explodindo. Cliquei no efetuar compra, o recibo chegou no meu e-mail, e quer saber? Não doeu, não estou arrependida, não estou com vergonha, e olho feliz para a fase 140, onde estou agora, pensando que meu 1 dólar foi muito bem gasto na fase 133, onde eu possivelmente estaria até o mês que vem.

candy

Vim, vi e venci.
Mas comprei jogadas extras por 1 dólar

domingo, 12 de maio de 2013

We are Titanium.

A vida é a arte da sintonia. Eu já falei. Não é possível que não haja uma força de sintonias e encontros rodeando esse mundo, para fazer tudo acontecer da forma que tem que acontecer, na hora que tem que acontecer. Pode ser uma coisa épica, como um amor à primeira vista. Uma coisa sortuda, como um livro que chega na loja bem na hora que você chegou pra comprar. Ou pode ser uma coisa simples, como pessoas que já se conhecem e acabam assistindo o mesmo episódio do mesmo seriado no mesmo dia e resolvem conversar sobre o assunto.

É simples. Mas não deixa de ser sintonia. Os caps locks, os sofrimentos, as confissões, e tudo o mais. O assunto sempre gira. Sempre tem alguma história nova pra rolar. Aparece um relato, um desabafo, um sentimento. Uma música, uma força. A gente ri, esbraveja, chora, tudo junto. Pelos personagens queridos, pelas nossas vidas, por nós. E depois de ouvir por vezes a fio a mesma música no repeat e perceber que tá todo mundo gritando num volume só, a gente sabe que é sintonia. E que por mais simples que seja, naquela hora, daquele momento, todo mundo tem certeza que está no lugar certo, com a companhia certa, na conversa certa. Todo mundo lembra que estar perto não é físico, e que a vida, por mais que doa, nos faz virar Titanium.

weare

Pode atirar. Somos a prova de balas.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Te amarei de janeiro a janeiro

Todo mundo tem seus dias “uma nota só”. A Anna postou agora a pouco sobre uma música que ela ouviu seguidamente e eu pensei que precisava pegar carona porque estou desde cedo ouvindo a mesma música e pensando que ela é tão linda que merecia um post.

Eu acho interessante parar pra pensar no poder de uma música. Pensando friamente, é somente palavra ritmada. Como pode ser algo tão incrível? As músicas são a prova cabal de que as invenções mais geniais do mundo são bem simples. As músicas mandam nas pessoas. Ou você nunca ficou horas a fio cantando a mesma coisa,  mesmo que tentasse insistentemente tirá-la da cabeça?

Eu tanto não consigo tirar da cabeça que a minha foi pro título direto. Porque tinha tempo que eu não assistia novela, sabe. E eu sou noveleira, estava com saudades. E em meio a monografia, trabalho, musical, livros, falta de sono, eu ainda resolvi que merecia um tempinho pra ver uma novelinha, e estou vendo “Sangue Bom”. Que é um bocado errada, na verdade. Isabelle Drummond só reclama, Sophie Charlotte nunca me convenceu e Malu Mader fazendo papel de suburbana é algo bem questionável. Mas a escolha do elenco masculino, vejam vocês, anda muito correta, com Jayme Matarazzo, Humberto Carrão, Marco Pigossi, Bruno Garcia, e eu disse que ia falar de música, né. Então, a trilha sonora da novela me parece bem correta também. Agora me ocorreu que nunca vi a abertura e não tenho ideia de qual é a música. Mas o que importa é que toda vez que a Sophie Charlotte e o Marco Pigossi resolvem chorar um pelo outro, embora eu preferisse que Marquinho estivesse chorando por mim toca "De Janeiro a Janeiro” e fica tudo muito bem.

E eu queria dizer que hoje eu passei o dia ouvindo e cantando essa música, e ela me traz coisas boas. Ela me acalma. Porque me faz lembrar que muita coisa é pequena e passageira nessa vida, e que acima disso tudo está o amor, que pode não ser! Piegas, eu sei, mas dane-se, porque Nando e Roberta me encantaram com a melodia, com a doçura da voz, com as palavras dançando nos meus ouvidos. E que eu só tenho a dizer que no fim das contas, o que fica é que o universo conspira a nosso favor e a consequência do destino é o amor! Boa noite.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Quando nada (realmente) terrível acontece

Como uma amiga minha disse no blog dela uma vez, o câncer do vizinho não cura o seu resfriado. Cada um sempre sabe o tamanho dos seus pepinos e o quão é pesado (ou não) enfrentá-los e o fato do carma do outro ser maior não tira o direito de preocupação e sofrimento dos que carregam um "menor". Como eu falei, em um post passado, sobre algo que Hazel disse, todas as coisas são lidáveis. E se cada um tem que lidar com o seu fardo, que cada um tenha também o direito de sofrer por ele.

Fiz essa introdução só para poder contradizê-la durante o post, deixando claro que ele não tem intenção nenhuma de dar lição de moral. É só uma reflexão que está sambando na minha cabeça e que eu não quero deixar passar, mesmo estando ciente de que esse blog, ultimamente, não está passando dessas minhas filosofias de botequim. Acho que devo estar vivendo coisas bem pouco interessantes e pensando demais. Mas melhor não pensar nisso e falar logo do que eu vim falar.

Tem um episódio de Grey's Anatomy, por sinal um dos que mais me marcou, que diz o seguinte:

‘Eu tive um dia terrível.’ Nós dizemos isso o tempo todo. 
Uma briga com o chefe, enjoo, engarrafamento… 
É isso o que descrevemos como terrível, quando nada de terrível está acontecendo.
Essas são as coisas que imploramos para ter: 
um canal, uma auditoria federal, café espirrando nas roupas. 
Quando o terrível acontece,
 imploramos um Deus que não acreditamos para resgatar os pequenos horrores.
E levar isso embora.
Parece fácil agora, não parece? 
A cozinha inundada, a madeira podre, a briga que lhe deixa com raiva. 
Ajudaria se soubesse o que estava por vir? 
Saberíamos que estes seriam os melhores momentos da nossa vida?


Eu nunca consegui esquecer dessa quote. Ela é dita em um momento onde aconteceu um acidente com uma família, e uma menina de uns 15 anos tem que ser a forte do momento e dizer para os irmãos mais novos que sua avó e seus pais faleceram. É um daqueles casos onde a cena não precisa de mais nada pra te fazer ter dor de barriga de nervoso. Eles não eram personagens fixos, nunca tinham aparecido e tampouco tornaram a aparecer, e isso não mudou o meu desespero frente àquela situação. Porque seria com certeza uma daquelas onde eu pensaria que, meu Deus, eu realmente tinha coragem reclamar de coisas banais?


Meu pai vive abrindo a janela do meu quarto no inverno, para o ar circular. Além disso, ele se tornou apaixonadamente adepto do livro e da revista digital: Só lê pelo IPad e me chama de retrógrada (!) pelo amor que cultivo aos meus livros. Critica minha estante, vejam só. Minha mãe é daquelas que sempre arranja algum motivo pra se estressar, na falta de um motivo realmente estressante. Se não estivermos, por exemplo, atrasados, ela reclamará da roupa que eu escolhi usar. Ou do meu cabelo. Ou ainda vai dizer que eu não passei batom. Ah, e ela sempre diz que a chave de casa não está com ela e joga a culpa em alguém pelo sumiço, até que a encontra dentro de sua própria bolsa. Minha irmã sempre desamola os alicates, entra no chuveiro na hora que eu quero tomar banho e nunca fecha a porta do meu quarto quando sai dele. Minha avó? Minha avó sempre defende os mais novos e já me "expulsou" da casa dela quando eu revidei um tapa na minha irmã depois que ela já tinha me dado 3 deles por pura provocação.

O inferno são os outros, né, Sartre? São. As pessoas e suas manias e cotidianices, sempre trabalhando par arranjar o melhor jeito de nos tirar do sério. Mas isso é tão, tão pequeno, quando a gente se imagina no lugar da menina, tendo sobrado praticamente sozinha, e ainda por cima carregando o fardo de avisar aos irmãos pequenos que a família inteira estava morta. Essa cena, sim, me dá muita vergonha de mim só de lembrar. Porque numa hora dessas eu só choro abraçada na almofada, olho pra menina e agradeço infinitamente por levantar da cama e ir fechar a janela que meu pai abriu pela milésima vez.

Ah, essas chatices da vida. Grey's Anatomy acertou mais uma vez. São sempre por elas que imploramos quando algo realmente chato acontece. Essas cotidianices chatas não deixam de fazer parte dos melhores momentos de nossas vidas. 

domingo, 5 de maio de 2013

Quatro de maio de dois mil e treze

Partindo do princípio de que um dia começa à meia noite, e não na hora que você acorda, meu dia começou num fim de sexta feira animado. Quero dizer, animado para os meus padrões, e não para o dos baladeiros, até porque, eu estava em casa. E apenas digo que foi animado porque há algumas horas tínhamos saído da aula com a primeira coreografia de nosso musical marcada. Anyway, quando deu meia noite eu estava na cama com o computador, e assim fiquei até mais de 3h, por motivos de “estava com preguiça de desligar tudo, virar para o lado e dormir”. Quando resolvi desligar tudo, virar para o lado e dormir, a insônia resolveu se vingar e essa se tornou uma tarefa intempestiva, onde eu virava de um lado pro outro, acendia e apagava as luzes, lia, jogava candy crush, e todas as coisas do tipo, menos conseguir dormir.

Já eram quase 5 quando eu resolvi levantar, vestir a roupa que usaria na manhã seguinte, e voltar para a cama, para pelo menos um cochilo rápido. Me vesti, deitei, e mais ou menos meia hora depois eu consegui dormir. Quando eu acordei com o despertador às 8h queria chorar. Pra completar, vi que meu pai não tinha saído da cama, o que significava que eu não ganharia minha carona. Liguei para o táxi bem mau-humorada enquanto tomava um toddinho.

Quando entrei no Taxi e falei o endereço ele não sabia onde era. Todo mundo sempre sabe onde é, então eu nunca me preocupei. Pra completar, ele já tinha começado um caminho diferente do que a minha mãe faz no carro, e não dava mais pra entrar na rua onde eu saberia guiá-lo, o que o deixou bravo quando eu disse que não sabia o que fazer. Perguntei se ele sabia ir para o shopping, que fica bem perto, e ele disse que sim. Quando chegamos perto, eu fui ditar as ruas para as quais ele deveria entrar e ele foi grosso (!) soltando umas ironias ridículas.

Cheguei ao destino, entrei na escola com óculos escuros e bem mau-humorada, mas a manhã foi produtiva. A maioria das crianças estava de bom humor e afim de ensaiar a peça direitinho. Quando acabou, fui fazer o ensaio de fotos de dois colegas para a peça deles, e voltei pra caçar assunto. Acabei indo almoçar com 4 amigos, e foi bem gostoso. Depois meus pais me pegaram, eu ainda enrolei um pouco em casa e tomei um longo banho ao som de Taylor Swift antes de irmos para o aniversário de 7 anos do meu priminho.

O aniversário do Gu incluiu no pacote, logicamente, Anninha, Nina e Rico, o que faz tudo ficar lindo. O Gu estava feliz da vida, com as bochechas cor-de-rosa, correndo de um lado para o outro. Anna chegou vestida de onça e me deu aquele abraço que é sempre o melhor do mundo. Nina pediu meu colo e ficou comendo bolinhas de queijo. Rico chegou um tempo depois e passou 90% do tempo dormindo, mas com uma camisa xadrez incrível e um tênis da Ralph Lauren, porque ele é um cara fino!

Aniversário de criança, além das crianças, significou muitas bolinhas de queijo, batata frita e brigadeiro. No fim da história, voltei pra casa rolando, por volta das 21h, e lembro da minha amiga estar agitando um skype no whatsapp. Lembro que respondi que queria, enquanto colocava o pijama e escovava os dentes. Deitei na cama, coloquei o computador no chão, apaguei e só acordei hoje às 11 da manhã. É. Dificilmente eu apronto uma dessas de dia de semana, mas no sábado, o dia em que eu posso dormir tarde sem culpa, eu morri de cansaço e dormi antes das 21h30. A vida tem dessas coisas.

*Texto postado para o meme “Um dia”, que começou no dia 4/05 do ano passado. Acho que percebi que esse meme não me dá muita sorte. Ano passado eu narrei o dia bem mau humorada e hoje estou no mesmo clima. Sai, uruca!

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Minha vontade de ser bicho

Esse título é só pra comprovar que esse texto todo vai ser só mais uma fraude. Porque não dá pra começar uma tentativa de não-lirismo e não-poesia usando da mesma. Pra começo de conversa, o título não é meu. É de uma peça que eu nunca assisti, mas que sempre me chamou atenção por ter o nome que tem, embora eu não fizesse ideia do porquê. E talvez ainda não faça.

Eu leio demais. Desde pequena. Não assisto tantos filmes, mas ouço músicas o dia inteiro, e das parcas séries que vejo, guardo muita coisa. Tenho um caderninho que, outrora branco, hoje é repleto de trechos que me marcam. Não precisa nem ser trecho, afinal. Minha irmã vive me zoando por ter achado ali escrito “É flor de maracujá”. Mas foi porque me tocou. Maracujá é meu suco preferido. E eu acho que ficaria feliz se alguém me chamasse assim, sem querer. De flor de Maracujá, eu digo.

Anoto as coisas nesse caderno alternando canetas vermelhas e pretas. Acho que é uma tentativa de tornar intenso em algum canto na minha vida algo que na verdade eu só li ou ouvi por aí. John Green diz que gênios fazem, e prodígios aprendem o que os gênios fazem. Utilizando como uma metáfora, eu sou um tico de cada coisa. Mas o problema é que tudo fica no mesmo campo: O da literatura.

Eu escrevo coisas, quando consigo. E quando não, cito trechos. E assim meu mural do facebook é alimentado: Com coisas bonitas que os outros escrevem. Claro, sempre com os créditos. Mas porque eu leio, ouço, e não consigo calar. Não consigo calar o que a dor ou a alegria dos outros causa no meu peito. Não consigo calar uma música que corta a minha alma em mil pedaços, não consigo calar o amor que alguma outra pessoa sentiu, uma vez, num livro ou num sonho.

Dia desses eu descobri que eu sou poeta e não aprendi a amar. E é duro. Minhas vivências, em sua sua maioria, são páginas de livros. As histórias de amor, quase 100% delas totalmente literárias. Eu já quis engolir histórias pra que elas acontecessem dentro de mim, e eu já quis criar as minhas próprias, e talvez seja por isso que elas demoram a acontecer.

Eu passo muito tempo criando diálogos e tornando líricas as frases que ainda não cheguei a dizer. Já ensaiei, confesso, sozinha no quarto, votos que faria no meu casamento, para alguém que ainda nem conheci. Eu tento transformar minha vida na poesia que ela não é. Antes fosse, e assim eu daria um jeito de disseminar as vírgulas, os suspiros e o ponto final conforme a minha querência.

É necessária muita iluminação pra perceber que viver de verdade não é perguntar “Posso colocar meu coração aos seus pés”, porque na vida real, a gente tropeça nas pernas da pessoa e derruba o coração, que se estilhaça, antes mesmo de se ter a chance de perguntar (a si mesmo) se queria depositá-lo ali. Quem consegue pensar na pergunta não são os humanos, são os poetas. Sou eu.

Eu penso na pergunta. Eu sei que a saudade é a saudade, e eu entendo a maioria das lágrimas que eu deixo cair. E me contaram, talvez tardiamente, talvez na hora certa, que na hora da nossa situação limite, a gente não consegue significar nada do que acontece, nem ao menos saber com qual sentimento se está lidando.

Quem sabe a vida não é sonhar. Quem sabe a vida não é tornar lírico. Porque não adianta tentar driblar as palavras e tomar cuidado com os pontos finais sendo que sei que são as vírgulas fora de hora que fazem os sentidos das coisas serem relevantes.

Porque que isso tudo é uma fraude? Porque eu estou aqui tentando confabular e poetizar com palavras escolhidas e pontuadas minha percepção tardia e vazia de que eu cheguei até aqui só pra descobrir que muito citei e quase nada vivi. E pra ser ainda mais ré confessa do lirismo que eu tento atingir inutilmente, tornando a vida vaga e o texto também, vou terminar com outra citação, pra ver se eu mesma me acordo.

Bobeira é não viver a realidade. E eu ainda tenho a tarde inteira.

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