quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Perdemos

Era exatamente nesse título que estava pensando quando, às 8h da manhã de segunda-feira, descobri que Gregório Duvivier tinha desenvolvido brilhantemente a faísca de ideia que eu tinha. Em seu texto, que vocês certamente vão conferir (tô de olho), ele enumera muitas coisas que perdemos durante o período das eleições, o que inclui muitos bilhões e alguns amigos. Amigo de verdade eu não perdi – porque são de verdade – mas não dá para não dizer que umas grosserias foram despejadas desnecessariamente por aí - da minha parte e da dos amigos. Culpem as estrelas os ânimos exaltados de todos.

Gregório enumerou, em suma, o que perdemos pelo meio do caminho. Meu pensamento era mais específico sobre o que perdemos ontem. O que perdemos com o resultado. Porque, gente, se tem algo inegável é o fato de que perdemos. Perderíamos de qualquer maneira.

Não dá pra dizer que se ganhou alguma coisa com a confusão estabelecida pós resultado. Não dá pra dizer que ganhamos alguma coisa com a quantidade de xingamentos absurdos na internet. Não dá pra dizer que ganhamos porque minha cabeça chega a doer só de pensar no que estão falando dos nordestinos, isso para não começar a dar mais exemplos. Tudo isso parece ter gostinho de vitória para alguém? Para mim não.

Gostaria imensamente de saber quem, de fato, anda ganhando alguma coisa com toda essa confusão e falta de respeito. Com gritaria e xingamentos, com atentados à democracia. Acha que eu estou exagerando? Para mim é sim atentado à democracia dizer por aí que “pior que bêbado dirigindo é idiota com título de eleitor na mão”. É idiota então só porque não tem a mesma opinião que você? Amigo, deixa eu te contar, o problema está em você, não nos outros.

Julia disse aqui que educação vem de berço e que boas maneiras se aprende é na educação infantil. Vocês deviam ler esse texto também, mas enquanto isso soltarei um spoiler: ela termina a postagem dizendo que “esse tal de gigante acordou e precisa, urgentemente, colocar um tênis no pé, uma mochila nas costas e ir para a escola”. Concordo totalmente. Já passou da hora de aprender a respeitar a opinião do coleguinha. Believe me or not, ela é tão válida quanto a sua.

Nunca antes na história dessa minha vida eu me envolvi tanto – e por tabela, me estressei horrores – com a tal da eleição. E só o que espero agora, de verdade, é que dê certo. Que as mudanças sejam cobradas. Que eu conclua, animada, que quem votou na Dilma estava certo, e errada estava eu que não votei nela, se é que existe o certo e o errado. Aliás, existe. E estamos todos errados se continuarmos nesse rumo. Não dá para cobrar um país decente se não está rolando decência nem na divergência de opinião. Complicado. Querem um Plot Twist? Eu acredito. Sempre acredito. Uma hora a coisa vai dar mais certo. 

domingo, 26 de outubro de 2014

It’s a new soundtrack I could dance to this beat

Quando se trata de música, sou totalmente adepta do shuffle way of listening. Coisa mais difícil do mundo eu ouvir um álbum inteiro – e me apegar ao conjunto da obra. Lembro de ter ficado ansiosa pelo lançamento de um CD na minha vida: Aquele de Sandy e Júnior que tocava Imortal. Só.

Qual não foi minha surpresa quando me peguei realmente contando os dias para o lançamento de 1989, novo álbum da menina Tay. Quando comecei a acompanhar a obra dela, fui pulando de música em música. Só descobri o amor mesmo quando percebi que curtia muito o RED praticamente inteirinho. Consigo excluir da minha lista “Girl at home” e “The lucky one”, apenas. RED é pura magia. Pena que não é dele que eu vim falar.

Como eu disse, contei os dias para o lançamento de 1989. Acompanhei as postagens dela no Instagram revelando trechos das músicas. Ia lendo os pedacinhos de letra e imaginando as melodias. Apesar dela ter deixado claro que a vibe era totalmente pop, o título 1989 me deixou na expectativa de algo nostálgico. Ok, seria pop, mas seria… Taylor, ué.

1989
Era perto de 1 da manhã quando um ser humano abençoado me mandou, no twitter, o link para baixar a pasta .rar do álbum, versão deluxe. Dei pulinhos. Contei os pontos percentuais diminuindo para que eu finalmente escutasse esse CD. Abri a pasta e comecei animadíssima com “Welcome to new York”: Oba! Como começa animado! – concluí.

Achei, inclusive, muito perspicaz a primeira faixa do álbum ter o trecho que usei para entitular o post. É uma nova trilha sonora e eu posso dançar essa batida. Claro que posso dançar, pensei animada. Aí começou a próxima. E a próxima. E a próxima. E todas pareciam a mesma.

Taylor realmente abraçou o pop. Mas ela acreditou piamente que seu tipo de pop só podia ser executado se ela definisse uma fórmula exata para ele, e foi o que fez. As músicas estão com a voz meio robotizada, estão cheias de eco e a maioria dos refrões é apenas a repetição de uma frase em looping eterno.

FullSizeRender
Tá vendo essa montagem tosca que eu fiz com fotos mais toscas ainda que tirei da tela do meu computador? São 3 refrões. Entenderam o que eu quis dizer? Me imaginem completamente inconformada ouvindo tudo isso aí e pensando que a autora deles é a mesma pessoa que escreveu “It was rare, I as there, I remember it all too well” e “I don’t know about you, but I’m feeling 22, everything will be allright if you keep me next to you”. Taylor Swift sabe compor. Ela sabe dominar uma fossa e fazer das tripas uma ótima música. Não entendi por que essa compra da vibe pop devia incluir a repetição eterna. E ela sabe cantar. Que saudade senti dos gritinhos agudos. Que saudade de Trouble, meu Deus, que me deu.

Não estou falando que o CD é ruim. É bom. É animadinho. Tem “Blank Space” e “Style” nele. Tudo a favor, inclusive, da evolução da menina: ela está nitidamente mais madura e achando o seu lugar no mundo. Nesse álbum ela se posiciona e, ao invés de assumir a dor de cotovelo, pisa na cara duzômi e mostra que no fim das contas consegue ficar por cima da carne seca. As músicas não são ruins. Só não parece Taylor Swift. Tem tanto efeito no badalo que eu me senti ouvindo, sei lá, Ellie Goulding, e fui obrigada a concordar com a minha irmã que, por volta da 5ª música, me perguntou se estava no modo repeat, porque ela tinha a impressão de estar ouvindo a mesma desde que eu cliquei no play.

Dificilmente eu gosto de alguma coisa na primeira vez que escuto, então ainda tenho esperanças de gostar bastante de 1989 – mas a esperança de que ele seja meu novo RED infelizmente não existe mais. Mas essa é a magia da coisa, não? John Green escreveu “A Culpa é das Estrelas” e “Teorema Katherine” – e conheço gente que é apaixonada por um e pelo outro. Não seria diferente com Taytay.
Enquanto isso eu tento curtir a novidade – sentindo profundas saudades de emendar “Last time” com “Come back, be here”, e declaro que prefiro o sofrimento por Jake e John Mayer ao novo estilo de sofrer por Harry Styles – esperando ansiosamente outubro de 2016.

sábado, 25 de outubro de 2014

Meu vestido cor de rosa

Minha mãe é um ser humano engraçado. Ela é do tipo coruja nível regular, sabe? Daquelas que posta foto minha com homenagem no facebook, quando dá na telha, mas que sabe apontar meus erros e não passar a mão na minha cabeça – nem quando estamos sozinhas, nem na frente dos outros. E ela não é do tipo nostálgica acumuladora. Está aí um dos nossos grandes atritos emocionais, daqueles do tipo que certamente vão me colocar na frente de um psicológo que me dê certeza de que a culpa é da mãe, sempre.

Tenho uma tia coruja que tem desenhos de quando eu era criança. Cadernos de bobagens que eu rabiscava. Se bobear, ela tem guardados textos que eu escrevia pequena. Ela tem cartinhas em uma caixa e até, pasmem, uma toalhinha de rosto que eu pintei no jardim 1. Era presente de dia dos pais, mas os meus certamente acharam a toalha esquisitinha. Minha tia não. Se encantou com ela e sempre põe no banheiro quando eu vou pra lá.

Minha mãe é ótima, mas não se preocupou em guardar desenhos, nem cartinhas (deve ter uma ou duas), nem presentinhos de dia das mães da escola e fez o favor de tornar possível que sumisse um disquete (sim) de textos que eu escrevia no computador quando era pequena. Gente, olha a veia de escritora (aham, sdds): aos 8 anos eu escrevi um texto de 10 páginas! Aquilo era o orgulho da minha vida. Passei meses no word. Era a história de uma menina que ganhava uma irmãzinha e viajava pra Disney. Lembro até agora do meu ótimo senso criativo – as bisavós da protagonista se chamavam: Holanda, Rússia e Itália – e do meu pouco conhecimento biológico – a gravidez da mãe dela durou 1 ano. Não acredito que perderam esse disquete. Se fosse uma cria minha escrevendo essas maravilhas eu faria no mínimo 10 backups. Não é todo dia que se tem a chance de usar o trem desses em um discurso na formatura – claro que serei dessas mães que discursa.

Mas a história nem era sobre isso. A história é que minha mãe não guarda as nossas coisinhas nostálgicas e, como a minha família é enorme, nossas roupas e mantas sempre foram passando para os primos que iam nascendo, de forma que nem minha manta da maternidade eu tenho. No meio dessa confusão toda, escapou um vestidinho. Um vestidinho cor-de-rosa de bolinhas que, segundo a progenitora, foi o primeiro vestido que eu usei na vida.

Ele é tão fofo e tão pequeno que eu, que já corujo meus futuros filhos antes mesmo deles sonharem em existir, mal posso imaginar vestir nele a minha menina. Estou aqui, agora, na verdade, imaginando que tipo de reflexão você leitor está esperando dessa lenga lenga toda. Sinto muito: não vai ter nenhuma. A verdade pura e simples (que raramente é pura e nunca simples, segundo Orwell) é que eu precisava postar por causa do desafio 7 dias 7 crônicas que vira e mexe eu e a Anna resolvemos fazer. O texto tinha que sair antes da meia noite e já passou das 23h. Eu não tinha tema nenhum, de modo que recorri ao grupo “642 coisas sobre as quais escrever” no facebook, sorteei o número 45 e nele estava escrito “Uma peça de roupa que guardou como lembrança”. Aí eu lembrei do vestido. E resolvi que tentaria tirar algo em relação à falta de nostalgia da minha mãe e o vestido cor-de-rosa. Não consegui, mas saiu isso aqui. Será que dá pra ser considerado uma crônica? Eu sou uma fraude.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Crème Bruleé

Se você é da mesma geração que eu e passou parte da adolescência cantando High School Musical (nem adianta negar, tô de olho) você lembrou do registro. Sim, no meio de Stick with the status quo, aquela coreografia gigante envolvendo mesas e cadeiras na cantina, no primeiro filme. Um dos personagens fala que sair do seu status quo seria assumir que gosta de cozinhar e que faz Crème Bruleé muito bem.

Eu nunca esqueci o tal do Créme Bruleé. Fui vivendo caminhando e cantando e seguindo a canção e de vez em quando lembrava do negócio que eu nem sabia direito o que era – mas que tinha um nome incrível e certamente parecia apetitoso.

Tenho uma colega de trabalho muito chique. Já rodou a Europa inteira, seus filhos são meio brasileiros meio franceses e ela é apaixonada pela França, de modo que resolveu comemorar seus 63 anos em um restaurante francês. Lá fui eu. Depois de uma champirinha e de um risotto de camarão com brie maravilhoso, qual não foi minha alegria quando abri o cardápio de sobremesas e dei de cara com ele. Majestoso. O crème bruleé.

Nem tive dúvidas. Pedi. E o garçom veio com ele e tostou na minha frente! Saiu aquela fumaça cheirando a açucar e eu senti ali que meu destino sobremesístico com a mousse de chocolate estava em perigo. Quando bati a colher na casquinha queimada e aquilo trincou, quando botei a primeira colherada do tal creme na boca, foi ali que eu descobri que nunca mais posso viver sem isso.´

Eu comi Créme Bruleé. Anos depois de ter ouvido falar dele no High School Musical. E só posso dizer que estou profundamente apaixonada. Só de pensar lembro do cheirinho do açúcar e da textura da casquinha rachando. Não acredito que passei tanto tempo distante dessa iguaria; perdemos 22 anos de amor.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Sobre o mês em que o Google me sugou

Aparentemente todo ser humano consciente sabe que uma das regras primordiais da internet é que não se entra no google para pesquisar sobre problemas de saúde. Eu me julgava coerente. Me julgava sã. Até o dia que resolvi pesquisar uma bobeirinha relacionada a isso e o google me sugou.

Se tenho vergonha de contar? Nenhuma. Vai que serve pra alguém que também esteja no vórtice errado, né? Então. Eu joguei “dor nas costas” no google. E descobri que, muito além do peso da minha bolsa dia após dia ou a falha na postura, eu poderia estar com câncer de pulmão. Ou quem sabe, nos ossos, mas esse eu consegui descartar porque aparentemente só se tem câncer nos ossos na infância. Fui no ortopedista tremendo de medo pensando que ele ia me internar direto. Ele disse que era dor muscular e me passou alongamentos.

Pensam que eu me contentei? Óbvio que não. Viciei na história e comecei a jogar a mãe no google. Comecei a ficar tão maluca que fui parar no ofalmologista (pra escutar que minha visão e todos os meus exames oculares estão mais que perfeitos, graças a Deus) e quase desmaiei de medo dentro de casa quando minha irmã falou que eu tava com roxos a mais que o normal. Eu sou estabanada e vivo roxa. Nunca me importei com isso, mas nas atuais circunstâncias, certamente era treta. Podia ser falta de vitamina K. Podia ser anemia. Podia ser leucemia. E eu deixei o pânico tomar conta de mim.

E eu descobri qual é a do google. Ele é o Datena. Ele te assusta tanto e te oferece tantas possibilidades de treta (se não for uma doença, certamente é aquela outra ali) que você perde o prumo e chega num nível que tem certeza absoluta de que alguma coisa você tem; que não tem chance nenhuma de você ser… saudável.

Eu descobri que existem dois tipos de pavores na vida. Eu tenho um primeiro pavor, que é o de agulha. Fujo de exame de sangue igual o diabo da cruz. E eu conheci o segundo pavor: o medo de ter alguma coisa séria, que colocou o primeiro no chinelo e me fez decidir fazer um exame de sangue por minha conta em risco, sem ordem médica nenhuma, só para saber o que de tão errado andava correndo nas minhas veias.

Eu não tenho nada. E eu estou tão, tão feliz. Nunca mais na vida eu entro no google. É um compromisso com a minha sanidade. Eu se fosse vocês faria exatamente o mesmo. Grata pela atenção.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Já pode acabar

Pode ser que isso sempre tenha acontecido e eu só esteja reparando agora. Ou pode ser que realmente esteja mais forte dessa vez. O fato é que nunca antes na história dessa minha vida eu ouvi e li tanta guerra e trocação de farpas a respeito de uma eleição.

Parece que as pessoas estavam aguardando quietas nos cantinhos, loucas para arranjarem um motivo para se odiarem. Aí então a guerra começou no primeiro turno e foi só chegarmos na tão já conhecida batalha PSDB+PT que o troço pegou fogo e tá indo bomba pra tudo quanto é lado.

No facebook, confesso, nem sei mais porque entro. Não aguento mais os avatares politizados, não aguento mais vídeos de um, vídeos de outro, não aguento mais campanha dissimulada e discurso de ódio. Por favor, gente, vocês nem estão recebendo para colocarem a mão no fogo publicamente pelo candidato de vocês. E querem ler a opinião de alguém que não confia em nenhum dos dois e vai votar no que acha menos pior? Se não quiserem ler não tem problema, vou falar mesmo assim: continuem colocando a mão no fogo e vão se queimar bem feio.

A idolatria por um dos lados me faz pensar que o mocinho só fez milagres por Minas Gerais – que não o elegeu. A fixação pelo outro lado me faz acreditar que realmente aquela confusão em junho do ano passado era realmente só pelos 20 centavos – como podia estar todo mundo arretado com o governo e de repente defender apaixonadamente a presidente dele? Não entendo. Não entendo essa paixão avassaladora de nenhum dos dois lados. Eles não valem nossa sanidade mental.

No início me preocupei horrores, tentei me envolver mais, li sobre os dois, fiz pesquisa e dou a cara pra bater aqui afirmando que, nobremente ou não, cansei. Cansei porque estava prestes a ficar doida. Cansei porque não aguentava mais me envolver em discussão e baixaria. Cansei porque parece que as pessoas não querem votar consciente – querem tacar pedras na escolha do outro, falar mal do candidato do outro, chamar de imbecil quem vota no outro e coisas do tipo. De um modo ou de outro, estamos em uma democracia. O dia 26 vai chegar, vamos votar, as urnas vão nomear um ~campeão~, o povo vai xingar mais uma semana e uns 10 dias depois o facebook vai voltar a se encher de mensagens de “bom dia” com florezinhas piscando. Não vejo a hora.

- Nesse texto você leu que: Estou de saco cheio dos discursos de ódio e trocação de farpas nas redes sociais.
- Nesse texto você NÃO leu que: Estou defendendo um dos dois. Estou criticando um dos dois. Estou botando o dedo na cara de você que vota em um ou em outro. Estou dizendo que meu voto não é consciente. Estou largando mão do Brasil.
- Portanto: Se vier discursar contra ou a favor de um ou de outro na minha caixa de comentários eu vou mandar passear, vou logo avisando. Se na rede social tem democracia, aqui quem manda sou eu e não quero saber de politicagem no meu canto. Obrigada.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Cocadas, palhaços e agulhas

“O que seria do azul se todos gostássemos do amarelo?” Repetia a minha tia, sempre que eu e minha irmã cismávamos em perder horas a fio com alguma discussão infundada que nascia na preferência de uma sobre alguma coisa que a outra não gostava.  Não é novidade para ninguém que as pessoas são diferentes e, mesmo assim, o ser humano vive caindo na besteira de se apavorar frente a escolhas/ações bestas de outrem que sejam completamente diferentes das dele.

Minha avó faz uma cocada divina. E não que eu não goste da cocada hoje (gosto sim e como muitas) mas é que quando eu era criança a minha relação com a cocada era praticamente transcendental. Eu olhava para o pote e chorava de amor. A hora da sobremesa era sempre a melhor do dia, quando eu podia, finalmente, sentar com um prato e comer quantas cocadas eu quisesse. Só que eu sempre fui uma pessoa que pensa muito mais do que devia, de modo que minha tranquila vida infantil de comedora de cocadas mudou rapidamente para um inferno mental quando uma das minhas primas disse que odiava cocada.

Eu me lembro nitidamente de estar sentada com um prato de cocadas na mão, a testa toda enrugada, mastigando a iguaria e matutando por minutos a fio how on hell alguém podia simplesmente odiar cocada? Aquilo era a melhor coisa do mundo.

Pensava, pensava, pensava e não chegava a conclusão nenhuma, de modo que a teoria que mais me pareceu coesa no momento era que as coisas tinham gostos diferentes para as pessoas. Imaginei que, judiação, para a minha prima, de certo a cocada tinha gosto de brócolis. Eca. E concluí: dei muita sorte, para mim a cocada tem gosto de cocada mesmo.

Vejam bem, foi mais fácil assumir para a Analu de 8 anos que a cocada e o brócolis trocavam de gosto para algumas pessoas do que simplesmente aceitar que, olha só que coisa, tinha gente que não gostava do gosto (tão maravilhoso!) da cocada. Da cocada da vovó, ainda por cima, poxa vida.

Dou risada sozinha só de lembrar dessa filosofia de boteco toda que eu martelava na minha cabeça só porque alguém não gostava de cocada, mas o fato é que por mais que tentemos assumir que as pessoas são simplesmente diferentes e pronto, tem sempre algum detalhe que nos deixa chocados. Principalmente quando as pessoas desgostam das nossas coisas favoritas ou... quando falamos de medo.

Minha prima não gosta de cocada. A Taryne odiou “As travessuras da menina má”. A Anna tem birra com Imagine Dragons. Minha irmã morre de medo de avião e eu já conheci uma menina que tinha pavor absoluto de palhaços. Uma adulta, tá? Eu conto.

Uma vez, no festival de Teatro infantil da escola, montamos uma decoração enorme e colorida no foyer... cheinha de palhaços. Eles eram muitos. Pequenos e grandes, mais ou menos vintage, alguns mais coloridos que outros. Toda hora que eu passava lá eu parava para ver como tinha ficado fofo. Até o dia que vi uma aluna de 18 anos passar chorando e de olhos fechados por ali, enquanto tudo o que queria era o direito de ir até a cantina sem se deparar com 81273 palhacinhos na sua frente. Acho justo, acho que cada um tem seus medos, mas absolutamente não consigo entender.

Assim devem ter se sentido todas as pessoas que me presenciaram, mesmo que rapidamente, ontem, no laboratório, onde eu estava para fazer exame de sangue. Aquele ambiente inóspito, branco e com cheiro de álcool. As pessoas chegavam, pegavam senha, faziam o cadastro, sentavam na sala de espera com uma revista, entravam na sala ao ouvir seus nomes e saíam tranquilas e leves, com o braço esticado normalmente, e pegavam um cafezinho.

Eu não tinha dormido à noite. Me encolhia na cadeira enquanto minha mãe pegava a senha. Não tinha levado NEM CELULAR comigo, porque, vejam, sabia muito bem que não conseguiria fazer absolutamente nada na sala de espera além de olhar para o além e rezar para demorarem a chamar meu nome. Quando me chamaram caminhei chorando até a sala, um choro legítimo, de quem está realmente se trancando de tanto medo, agarrada no braço da minha mãe. Deitei na maca (sim, porque não tiro sangue sentada jamais) e me encolhi de chorar. A enfermeira, tranquila, veio com o torniquete pra cima de mim e eu tirei o braço soluçando. Ela disse que não estava fazendo nada, nem agulha na mão ela tinha. Pedi para chamarem outra pessoa para segurar o meu braço enquanto ela fazia o serviço, senão eu ia tirar. Ela, ainda tranquilíssima, disse que dava conta sozinha e assim foi. Minha mãe segurava minha cabeça, eu botei música no ouvido, fiquei olhando para o teto, e só de lembrar daquela agulha no meu braço eu choro em cima do teclado. Alguém aí que não tem medo de agulha pode até aceitar, mas absolutamente não vai entender.

O choro da menina em relação aos palhaços foi dolorido igual ao meu com relação às agulhas. A minha irmã absolutamente não entende como eu posso entrar no avião sem medo nenhum. Eu tenho uma prima, repito, que não gosta de cocadas. E conheço até, pasmem, muita gente que não gosta de ler. Pensar naquele clichê de “como as pessoas são diferentes” nunca vai parar de me deixar intrigadíssima – e maravilhada, ao mesmo tempo. E não necessariamente nessa ordem.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Taylor Swift Book Tag

Sim, finalmente vou postar essa tag também porque eu posso até tardar, mas não falho – principalmente se a questão envolver livros e Taylor Swift, duas das minhas coisas favoritas no mundo. Como todo mundo já deve saber o que é, porque esse trem tá rolando pela internet há séculos, vou poupá-los das explicações. Quem me indicou foi a Duda e eu queria deixar claro publicamente que a demora em responder foi pura malandragem, mas de nenhuma forma descaso. Simbora então.

tay   Que que 6 tão usando meu santo nome em vão por aí?

1. Red (escolha um livro com a capa vermelha): Vou de “A Sangue frio”, do Capote. A capa é todinha vermelha, exceto pelas fotos das pessoas que foram assassinadas na história. E não, não é spoiler porque o tempo todo o leitor sabe que se trata ta história real do assassinato dessas pessoas e, enfim. Não podia ter outro livro tão vermelho na minha estante.

2. We are never ever getting back together (um livro ou série que você estava amando, mas que depois você decidiu que queria "terminar" com ela): Acho pesado pensar que eu não voltaria jamais comm essa série porque, muito pelo contrário, morro de vontade reler e morrer de rir. Estou falando de “Desventuras em série”, aquela delicinha de 13 livros igualmente trágicos, cômicos e sensacionais. Quero dizer, pelo menos 12 deles, porque Lemony Snicket conseguiu a proeza de estragar tudo com um 13º (e último) livro péssimo! Tudo bem que não dá para não aceitar a ironia da situação: durante todos os outros ele ia dizendo, nas sinopses, para desistirmos porque o final seria ruim.

3. The Best Day (um livro que te deixe nostálgica): Assim como minha xará, não consigo não cair no clichê e falar de “Harry Potter e a pedra filosofal”, porque foi com ele que tudo começou. Se hoje eu como livros no almoço (no café da manhã e na janta também) 90% dessa culpa é de J. K. Rowling e eu lembro exatamente do momento em que meu pai abriu a caixa da Submarino e disse que tinha comprado para mim um livro que via muita gente lendo no ônibus. Ele leu comigo a primeira página e eu consigo ouvir, se fechar os olhos, o tom de voz dele falando sobre a Rua dos Alfeneiros número 4. Talvez, sendo bem dramática, esse tenha sido o primeiro dia do resto da minha vida.

4. Love Story (um livro com uma história de amor proibida): Fui longe agora. Franzi os olhos, mirei fundo a minha estante e, suddenly, lembrei de um livro que nem está nela. “O Crime do Padre Amaro”, do Eça, que li no segundo colegial. Me lasquei na prova porque não soube responder a pergunta profunda da professora, que era sobre qual tinha sido, de fato, o maior dos crimes de Amaro. Nem sei se poderia, na verdade, encaixar esse livro em uma história de amor proibida, porque Amaro foi um grandissíssimo FDP com a pobrezinha da Amelia. Mas enfim, foi dele que eu lembrei.

5. I knew you were trouble (um livro com um personagem mau, mas que apesar disso, te conquistou): Pensei,pensei,encarei a estante por minutos a fio, cocei a cabeça, saiu fumaça do meu cérebro e minha conclusão é de que nunca me apaixonei por um vilão literário. Consigo odiá-los facilmente.

6. Innocent (um livro que alguém estaragou o final para você): Também não consegui me lembrar de um spoiler tenebroso na minha vida literária não. E to pasma até agora que tenho 59 músicas da Tay no meu IPod e nunca ouvi falar dessa aí, vou tratar de ouvir agora.

7. You belong with me (um livro que você está ansiosa para que seja lançado): Olha, acho que nunca na vida vou experimentar de novo a ansiedade desesperadora pelo lançamento de um livro como a que vivi esperando pelos Harry Potters 5, 6 e 7. Nunca. De qualquer forma, vou de “Attatchments” da Rainbow Rowell, que ainda não chegou ao Brasil e eu morro de preguiça de ler em inglês, mas estou curiosa. Mas assim, nem curto muito a Rainbow (dei 2 estrelas pra E&P, lembram?) e essa ansiedade é apenas uma marolinha, de forma que me sinto até culpada de relacioná-la com YBWM, uma das músicas de Taytay que eu mais amo e que tem um clipe absolutamente brilhante.

8. Everything has changed (um livro em que o personagem se desenvolve bastante): Quando li o nome da música dessa categoria achei que pediriam um livro que teria mudado a sua vida. Eu responderia “Coisas que ninguém sabe”, que é meu livro favorito no universo e me assolou de uma maneira impressionante. Sendo a descrição diferente do que eu imaginei, vejam que coisa, continuo dando a mesma resposta porque acho que os personagens evoluem o psicológico de forma linda. Chorei e aplaudi enquanto lia esse livro.

9. Forever and always (o seu casal literário favorito): heheheheclichêhehhehe Elizabeth e Mr. Darcy, claro. Sempre. (E eu acho essa música bem chatinha).

10. Come back… be here (um livro que você não empresta, por medo dele não voltar): Já falei sobre isso uma vez no blog, mas vou resumir: O livro mais importante da minha estante, com a dedicatória mais linda do universo, eu emprestei e nunca mais vi de volta. Não me lembro pra quem emprestei, portanto nem posso cobrar. O fato é que esse livro foi embora com a dedicatória dentro e levou junto uma enorme parte de mim. Nunca vou me perdoar por tê-lo emprestado. Como nenhum outro livro que tenho chega aos pés desse, acabo que não tenho medo de emprestar nenhum. Só queria esse de volta.

Então, são essas 10. Mas como já vi gente que, ao fazer, inventou mais categorias, me julgo no direito de escolher também a minha bonustrack, porque acho que não pode existir uma TAG de Taytay que não envolva essa música.

11. 22 (um livro que fez com que você se sentisse feliz, livre, confuso e solitário, ao mesmo tempo e da melhor maneira): “A Lista de Brett”, da Lori Nelson Spielman, que eu li esse ano e, despretensiosamente, me arrebatou. Acredito que, justamente, por ele me deixar nadando em todos esses sentimentos citados, de forma muito bem narrada. Eu se fosse vocês tratava de ler.

Indico para as minhas sempre companheiras de cilada, Anna e Mimi.

taytay VLW FLW

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

4. A menina que quer ser jornalista

Livremente inspirado nesse blog genial aqui

Se tem uma coisa da qual não posso reclamar do meu trabalho (não que hajam muitas da quais eu possa) é que estamos sempre caindo na rotina. Trabalhar numa academia de artes faz com que você viva de tudo um pouco e acabe encontrando pelos corredores gente perambulando de figurino e até o colega de trabalho que teve de pintar o cabelo (e a barba!) de cor de laranja para interpretar algum personagem.

Dessa vez, um espetáculo do Núcleo Profissional foi aprovado em um projeto que leva peças de teatro a escolas públicas. Dentro das obrigatoriedades do projeto, constava a necessidade do grupo levar uma fotógrafa, de forma que lá fui eu, junto com o elenco. Eram duas apresentações, uma de manhã e uma no início da tarde, cada uma para mais ou menos 200 crianças. Entre uns sufocos e outros as apresentações super rolaram, foram lindas, e ainda recebemos aquele retorno de público que só se recebe em peça infantil.

Logo após à peça, as crianças foram correndo abraçar os personagens, muitas com papel na mão pedindo autógrafos e tudo o mais. Eu estava lá, quietinha, de fotógrafa, né. Sem figurino brilhante nem nada, morrendo de saudade de atuar (e do glamour de ser disputada pelas crianças, que sempre querem um abraço seu como se ele valesse um diamante (e vale)). Reparei, então, em uma das meninas que ao invés de um só papel tinha um bloco na mão e não queria só um autógrafo: fazia perguntas a um dos nossos atores.

Olhei, dei risada e falei para ele: “Até entrevista tá tendo aí, Rô?”, ao que a professora emendou: “A Gabriela participa do jornal da escola e vai fazer uma reportagem sobre a peça!”. Me apaixonei. Quando eu disse que era jornalista ela ficou encantada. Logo falei que ela tem talento e que daqui a alguns anos seremos colegas de profissão.

Ao fim de sua compenetrada entrevista, veio correndo me dar um abraço (yes!) e, no meio dele, me olhou radiante e disse: “Se encontramos no futuro!” (sic). Não me contive. Abracei-a ainda mais apertado e desejei mentalmente que ela tenha muito, muito sucesso. Estou te esperando no futuro, Gabi! Pode vir que ele é todo seu.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Apertem os cintos – O verão chegou

Ontem o clima do meu dia foi diferente, e nem estou falando exatamente da temperatura, nesse momento. Estou falando do clima/estado de espírito mesmo. Era domingo, feriado, e eu tinha que trabalhar, mas estava quente e estava sol. Então passei o dia trabalhando – mas de blusa e short, com uma flor no cabelo e rodeada de gente legal. Bati altos papos, ouvi histórias e, de quebra, assisti duas peças lindas.

Uma mulher aleatória, na bilheteria, logo depois de eu passar o cartão para ela (nossa bilheteira deve ter seus 70 anos – não usa óculos, com essa idade. Tem uma vista incrível, casos deliciosos para contar, faz contas a mão e tem medo da maquininha de cartões) segurou meu braço e disse que eu era linda, que parecia que eu tinha saltado agora do país das maravilhas. Sorri.

Passei um dia feliz. Sem entender direito o porquê. A noite estava sendo igualmente gostosa: Esticada na minha cama, na frente do ventilador, bati horas de papo com as minhas amigas. Como de costume, fomos das bobagens às filosofias, das creicisses aos papos sérios e obviamente fomos dormir às 2 e meia da manhã depois de muito falar de pizza homem. Ainda antes de dormir, comentei com elas que estava com uma expectativa boa em relação a essa semana – nada definido, mas ela me parecia estar chegando com uma cara bacana.

Logo que desliguei o computador e a luz percebi o que era: o verão. Dessa vez, exemplificado brilhantemente pelo barulho do ventilador enquanto se vive e, principalmente, se pega no sono. Aquele barulho de hélice girando e eu, com as pernas enroladas por cima do edredom, só conseguia pensar que algo de bom está para chegar e, se não for algo de extraordinário, ao menos será verão.

Não devia estar fazendo esse post. São Pedro não vai com a cara de Curitiba e basta a gente comemorar o calor para ele se irritar e nos roubar vários graus, acabando com a festa. Além disso, já tem gente reclamando. Tem uns 4 dias que está fazendo calor e o povo não para de falar que vai derreter, que tá com saudade do inverno. Tem aquele ditado educadíssimo que diz que gosto é igual cu bunda e cada um tem a sua, mas mesmo assim eu não consigo admitir que exista alguém que prefira viver feito um astronauta, com bota, dois pares de meia e ainda assim um pé gelado.

Há quem diga que calor só é bom na praia. Estamos quites, então: pra mim, frio só é bom quando eu estou com pijama de moletom, 2 cobertores e um lençol térmico ligado, na hora de dormir. E olhe lá, porque fico bem mais feliz dormindo feito essa noite – repito: com as pernas para fora do edredom e barulho de ventilador na cabeça.

Fui dormir às 3h da manhã, acordei às 7h30 para trabalhar e nem mal humorada eu estava? Vesti mais um short, mais uma blusinha, coloquei uma alpargata no pé e nem cheguei a cogitar tênis e meia - para quem vive com os pés gelados isso é bem raro. Saí leve, gente. Sem casacos, sem peso extra, sem a vontade de morar para sempre embaixo do edredom. Isso, meus queridos, é que é vida.

Olaf patrocinou esse post

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

3. O dono da bola (de cristal)

Livremente inspirado nesse blog genial aqui

No meu primeiro ano de faculdade eu tinha a matéria de fotojornalismo. O cara era um bom fotógrafo, mas um professor ruim. Talvez, sinceramente, eu tenha preferido um professor bom, mesmo que fosse um fotógrafo meia boca. Na sala de aula, tenho mais aflição de gente que tem conteúdo demais e didática de menos que o contrário.

Esse cara era um tantinho metido e jurava que tinha sido contratado para contar suas histórias de vida. Talvez essa seja a única explicação plausível para o fato de ele ter passado horas falando aleatoriedades em sala: sobre suas expedições fotográficas, sobre sua própria vida, sobre seus pensamentos em relação ao mundo, sobre o que ele previa que aconteceria conosco. Por isso, inclusive, meu título: Ele tinha certeza que era o dono da bola e, também, da bola de cristal. Sou péssima com trocadilhos, me perdoem. Enfim, continuemos.

Pouco aprendi, na teoria, sobre dosar o ISO de uma câmera. Nunca esqueci que o professor e sua esposa tinham uma vibe meio hippie e que as crianças tinham nomes bem praianos e místicos. Eles gostavam de maresia e liberdade, pregava ele. Um dia contou que sua filha, com 2 anos, pegou o Iphone dele e desbloqueou, lindamente, como se sempre tivesse feito aquilo. Ele se assustou com o envolvimento dela com a tecnologia, desligou o celular e a levou para a praia no mesmo dia.

Já vi muita gente se dizer comunista e, usando uma camiseta do Che Guevara, fazer uma selfie com seu próprio Iphone. Também acredito que role ser hippie e manter as crianças longe da tecnologia... sendo viciado no próprio celular. Não o julgo por isso. Mas o julgo por pregar a liberdade e o free spirit na vida... desde que todos vivam  da forma que ele ache razoável: uma vez, esse cara, livre que só ele, disse que não acostumaria nunca com essa história de gays. Casal é homem e mulher, né, porra? Disse ele, sorrindo, como quem fala do tempo. Cara controverso.

Uma vez, logo no começo do ano, ele proclamou, para nossa turma que começava, que nos desejava boa sorte. Deixou bem claro, entretanto, para a massa de calouros, que muita coisa aconteceria conosco até o fim dos 4 anos de faculdade. Entre as demais recomendações, disse que certamente algumas pessoas não se formariam, alguém engravidaria e alguém morreria. Em toda turma de faculdade alguém não se forma, alguém engravida e alguém morre, declarou ele.

Impressionável que sou, passei semanas a fio pensando que obviamente seria eu a que iria morrer. Pra que, né. Continuo aqui escrevendo, muito bem, obrigada. 4 anos se passaram. Ninguém engravidou. Ninguém morreu. Quanto aos que não se formaram, venhamos e convenhamos que essa é uma previsão bastante fácil e corriqueira de se fazer. É como meu padrinho, em todo reveillón, brincar que vai tirar búzios e dizer que neste ano vai morrer alguma pessoa famosa. Sempre morre uma pessoa famosa. Sempre alguém não se forma em uma turma. Há quem desista pelo caminho, há quem reprove, há que faça intercâmbio e atrase a formatura, há de tudo em relação a esse assunto mas, repito, ninguém engravidou e ninguém morreu.

Prever uma gravidez, por mais bombástico que possa parecer para uma turma que em sua imensa maioria tinha 18 anos, é prever uma vida nova. Bombástico, repito. Mas é vida. Aceitável a previsão, mesmo que não tenha acontecido. Agora, garantir que alguém da turma iria morrer antes dos 4 anos, isso eu nunca perdoei.

Acabou que quem morreu, infelizmente, foi a mãe dele, e ele teve que abandonar a cadeira para cuidar dos negócios dela, no litoral. Deve ter se mudado com as criança tudo para a praia. Sigo ele no Instagram, até. Como eu disse, é um bom fotógrafo. No frigir dos ovos, acabamos cursando o último bimestre com um outro professor, que usava pochetes. Também pouco lembro do conteúdo ensinado, mas lembro muito bem que ele passou um trabalho gigante e que, repito, usava pochetes. Se isso não é motivo para desvirtuar todo o resto, então não sei o que é.

Não vim falar sobre nada específico, na verdade. Mas é que nessa madrugada, rolando na cama, tudo isso me veio na cabeça assim, aleatoriamente. E eu decidi falar que um bom profissional não é, necessariamente, um ótimo professor. Decidi falar que morar na praia com as crianças e ter Iphone é ok, mas que não é bonito ser apaixonado pela liberdade e pregar em sala de aula que amor só é amor se for entre homem e mulher. Você é hétero, chapa? Que bom! Também sou, olha que coisa. Bora deixar as outras pessoas se apaixonarem por quem elas quiserem? Bora! 

Decidi vim falar, também, que se meu pai não tivesse comprado uma câmera pra mim e eu tivesse descoberto, na prática e sozinha, como lidar com ISO e velocidade de disparo eu, possivelmente, não saberia fotografar até hoje. Mas decidi, em suma, falar que tudo bem que nem todos da minha turma se formaram, mas que nenhuma menina engravidou e, principalmente, que estamos todos vivos, amém. Lide com essa, Mãe Diná