segunda-feira, 2 de março de 2015

Rio 450 (graus)

A primeira vez que eu fui ao Rio de Janeiro eu tinha 6 ou 7 anos. Apesar da minha memória ser excelente, não me recordo de nada além da lembrança nítida que tenho de ter perguntado aos meus pais o que diabos tinha de tão especial na lanchonete “Pão de Açúcar” para eles estarem falando disso desde que começaram os planos da viagem. Pode parecer ridículo, mas é sério. Imaginem na cabeça de uma criança escutar os pais falando o tempo todo sobre “o dia que iremos ao Pão de Açúcar”. Eu imaginava uma mesa farta, cheia de pães, sonhos e croissants. Era uma pedra; um ponto turístico. Fim do mistério.

Anos depois (acho que já era 2010 ou 2011) voltei. Novamente com meus pais e minha irmã. Ficamos no apartamento de uns amigos deles, na Tijuca, e lembro que era quente. MUITO quente. O apartamento era lotado de tapetes e era janeirão carioca. Fomos novamente ao Pão de Açúcar e tomei um sorvete delicioso lá em cima. Passamos uns dias em Búzios, sem internet, sem companhias interessantes e com tédio sobrando.

Meu terceiro contato com o Rio é o que eu considero o primeiro, de verdade. Fui para o Rock in Rio e vivi um final de semana infinito. Tem tudo relatado em uma série de posts que começa aqui, com detalhes, mas só adianto que foi ali o início da minha paixão.

Vamos falar agora da quarta vez, em maio de 2014. Também foram rápidos 4 dias – mais 4 dias infinitos. Foi dessa vez que eu realmente me apaixonei. Gente simpática e bronzeada, praia por todos os lados, sol a pino no outono. Algo completamente diferente dessa Curitiba com moletom no verão.
Na quinta vez, em dezembro do mesmo ano, já pisei em terras cariocas me sentindo em casa. O Rio de Janeiro é assim: quando você sai do avião e pisa naquelas terras você sente um bafo quente no rosto e sabe que chegou no lugar certo. Dali é só ladeira abaixo. Quando você conversa com a primeira pessoa que te cumprimenta com 2 beijinhos e puxa o S no fim da palavra, aí sim você sabe que não tem mais volta.

Depois dessas cinco vezes eu comecei a dizer que minha alma era carioca. Não tinha como não ser. “Que país é o Rio de Janeiro, senhoras e senhores” muita gente me ouviu dizer. Porque eu, como toda apaixonada iludida, tinha certeza absoluta de que aquele era o melhor lugar do mundo. O mais bonito. O mais feliz. O Rio certamente era um país próprio.

Foi na sexta vez que nossa relação ficou estremecida. Recentemente, passei uma semana no Rio de Janeiro. Dessa vez não foi exatamente a passeio – o que nos tira do prumo e nos lembra do fato de que “uma coisa é gostar de montanha-russa e outra bem diferente é morar no parque de diversões”. Pra começo de conversa, vou negar o que disse no parágrafo acima: o Rio de Janeiro não é um país não. Muito pelo contrário. Ele é tão mas tão brasileiro que o famoso “jeitinho brasileiro” foi concebido, nasceu e foi registrado em terras cariocas. A sensação que eu tive tendo que me virar ali era de que tudo era devagar. Tudo era cheio de pontas soltas. A cidade gira em torno de quem está atrasado, não de quem chega a tempo. E isso é só um começo.

Relembrando com minha amiga, também apaixonada pelo Rio, sobre momentos que passamos na cidade que já não é tão dos sonhos assim, conseguimos elencar uma série de intempéries que só poderiam ser carioca: taxistas que não sabem o caminho e colocam a culpa no turista; bicicletas do Itaú que são lindas na novela mas dão o maior trabalho para serem locadas; colação de grau sem cadeiras.

Paixão é isso, né gente? É ficar em alfa. Flutuando há metros do chão, fazendo de tudo para ignorar qualquer possibilidade de defeito. Amor não. Amor começa a ser construído quando a paixão ameniza, os defeitos começam a aparecer e você escolhe gostar apesar deles. Ou melhor, apesar não. Por causa deles.

Morei 10 anos da minha vida em São Paulo e cresci rodeada de paulistinhas que criticavam o Rio e os cariocas por tudo. Quando pisei lá, descobri que era pura inveja: eles tem cidade grande com praia a disposição. Conjunto perfeito com o qual os paulistas, coitados, não podem nem sonhar.

Hoje eu entendo que além da inveja tem uma questão cultural muito grande circundando the hole thing: paulistano é um bicho apressado. Tudo em São Paulo é rápido. Isso, obviamente, tem seu lado bom e seu lado ruim. Só fui na Bahia uma vez e não me lembro de quase nada, mas se procede a história de que lá tudo é devagar, o Rio de Janeiro só pode ser a sucursal do Nordeste. Mesmo assim, vejam só, temos que lidar com a verdade universal de que apesar de tudo isso e por causa de tudo isso, principalmente, ele continua sempre e indiscutivelmente lindo.


Rio, feliz 450. Já não estou cegamente apaixonada, mas tenho muita vontade de te amar para sempre. Vamos construir isso juntos? 

8 comentários:

  1. Analu,
    Linda homenagem à Cidade Maravilhosa.
    Lindo texto, como sempre.
    Quando a sua cidade natal merecerá uma homenagem assim? Fico com ciúmes
    Beijos

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  2. Olha, Analu, eu só fui no Rio uma vez portanto ainda não consegui ver que a cidade é pros atrasados, mas acho ele lindo de morrer. Fui na época do Rock in Rio 2011 e, nossa, lembro de ter chorado vendo o nascer do sol em terras cariocas pela janela do avião. Que cena linda e incrível. O Rio tem uma geografia abençoada, né?

    Mas acho que com todo lugar é assim. Me lembra um pouco a Alemanha que no começo eu fervia e dizia "melhor lugar do mundo" e no final já tava pedindo aos céus que mandassem um raio de luz que fosse durante o dia. Tenho minhas birras com Geesthacht por mil e um motivos, mas não posso deixar de notar as coisas boas da cidade também. Acho que você se sente assim também. E é como li num blog uma vez: a gente não pode julgar um lugar por uma ou duas vezes que fomos. Precisamos repetir a experiência e explorar de outra forma.

    Você explorou o Rio várias vezes e, olha só, ainda fala de amor no final do texto. Amiga, cê é romântica incorrigível meixmo. hahahha

    Parabéns pro Rio. <3

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  3. Já tivemos essa conversa antes e gosto da forma como você coloca: quem ama aceita os defeitos, ama até mesmo por causa deles e vida que segue. Uma hora a paixão precisa esfriar pra amadurecer em algo mais sólido, né? Acho que meu amor pelo Rio foi automático, porque foi uma subversão de expectativas. Veja bem, minha família tem pavor do Rio de Janeiro. Passei anos implorando para fôssemos lá nas férias e sempre ouvia aquela resposta fatalista do meu pai de que nós, mineiros turistas no Rio de Janeiro, seríamos assaltados e morreríamos de bala perdida assim que colocássemos os pés no calçadão. Fui preparada para caos, confusão e morte (até hoje acho o Santos Dumont meio assustador), e encontrei o nosso Rio, sabe? Sinto uma descrença quando penso no calor, nos taxistas, e naquele restaurante de Copacabana, mas tudo isso desaparece quando penso na mureta da Urca, no Arpoador e todo o infinito que aquela terra guarda.
    Precisamos voltar pra reforçar os votos!
    Te amo <3

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  4. Eu nunca fui ao Rio. Pisei no Galeão por meia hora, peguei minhas malas, comi uma coxinha com guaraná e paguei R$11,50 (sério) e depois voltei pro Sul.

    Quero muito conhecer a cidade maravilhosa. Mas por enquanto não vai dar.

    Adorei o post, deu pra ter uma ideiazinha de como são as coisas.

    Beijos!

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  5. Amiga, demorei, mas cheguei <3 Eu achei demais a sua descrição de experiências com o Rio, apesar de ele e eu ainda estarmos naquela fase mágica da paixão. Mas eu te digo que amar é mesmo muito mais real e sincero e eu tenho certeza que aquela cidade pode oferecer isso pra gente - esse sensação de estar no lugar certo, apesar de. A Gente precisa voltar, juntas, e construir umas boas memórias pra ocupar o lugar das ruins que agora você tem porque um dia, tenho certeza, você e eu ainda vamos amar aquele lugar e ter uma lista enorme de motivos pra isso.
    Te amo <3

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  6. Ainda estou na fase da paixão intensa&eterna. Não quero quebrar esse encanto, mas imagino que a cidade deve ter seus defeitos. Mas também, qual cidade não tem?
    Amiga, por favor construa esse amor com o Rio porque foi lá que eu vivi os dias mais bonitos de minha vida, com vocês. <3
    Te amo!

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  7. O Rio, claro, tem seus defeitos. E se você comparar com curitiba, a cidade natal da organização, dá até pra dizer que nada funciona aqui. O trânsito é um caos, transporte público é quase sempre uma merda, e muitos serviços não funcionam como deveriam (como culpar os outros se eu também mataria para estar na praia agora). Mas eu amo demais isso daqui e não troco por lugar nenhum (quero "morar" temporariamente em outros lugares, mas o rio sempre vai ser meu lar). Não existe lugar como aqui <3

    Beijos, amo você.

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  8. Amiga, olha, eu só fui no Rio uma vez e foi incrível. Contrariando todos os argumentos da minha mãe que insistia que o Rio era um lugar terrível, super violento e que eu morreria de bala perdida só de pisar lá, minha experiência foi deliciosa, tanto que preciso voltar assim que possível. PRE-CI-SO. Ainda vivo uma lua de mel meio fantasiosa, mas acho que, eventualmente, alguma coisa acontece pra colocar esse amor à prova. Essa viagem teve momentos terríveis e já te disse que me encho de orgulho quando penso em tudo que você passou, mas acho lindo quando você fala que o amor começa quando a paixão dá uma esfriada e os defeitos começam a aparecer. É uma prova, e acho que o Rio passou nessa.
    No final ele continua lindo, menos um lugar dos sonhos e cada vez mais um lugar pra se amar.

    te amo <3

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