quinta-feira, 17 de maio de 2012

Da minha saudade.

Eu acho que lembrança é diferente de memória. Pra mim, lembrança é uma palavra tão mais doce. É aquilo que a gente guarda no coração. Memória é o que fica na cabeça.

A lembrança, pra mim, é a do sentimento. É a da emoção. Quem memoriza, decora. Quem lembra, sente. Minha memória é muito boa. Mas eu prefiro mil vezes as lembranças. Se eu tiver memorizado uma conversa, não vou esquecer do que a pessoa falou. Mas se eu lembrar de uma conversa, não vou esquecer do tom de voz que a pessoa usou quando disse aquilo. Lembrar é sentir de novo. Aquece o coração. Gosto de lembrar dos abraços. Especificamente, dos abraços…

Eu gosto de lembrar das coisas. E sou daquelas que adora uma relíquia. E que adora sentar no chão, pegar as coisas na mão, e sentir tudo de novo. Quando fui pra Disney, recolhi uma porção de tranqueirinhas pra trazer de volta, e tenho na minha caixinha desde a chave do quarto até o cartãozinho de alimentação, incluindo aí um aviso de papelão que ficava no banheiro do quarto mandando a gente economizar água, ou coisa do gênero. Gosto de guardar minhas revistas, porque eu vou olhar e vou lembrar de quando eu li. Das Atrevidas, tenho todas. Desde os meus 12 anos. A minha primeira tinha a capa da Sthefany Brito, e, se não me engano, em letras amarelas, tinha a chamada na capa: “O guia da ficada na balada”, e eu deitava de bruços na cama, com as pernas cruzadas pra cima, e lia feliz da vida a minha revista adolescente. Ah sim, tenho uma caixa de gibis também. Lembro de quando o vovô nos levava na banquinha e deixava comprar todos os que ainda não tínhamos.

Tenho um conjunto de lembranças que é mais especial que os outros. É o meu xodó. Um dos que mais aquece o coração. É tudo o que guardei, materialmente falando, de Vamos Falar de Amor sem dizer Eu Te Amo. Eu tenho o véu de renda preta, usado na cena da viúva. Tenho também a vela usada na cena da viúva. Tenho a faixa branca que enrolava o vestido da Clara. Tenho a caixinha vermelha que eu guardava a aliança dela. Tenho o texto que usei pra ensaiar, todo rabiscadinho e amassado. Tenho também um texto que imprimi depois, encadernadinho e limpinho. Tenho o coraçãozinho vermelho que ganhei da Airen em um ensaio. Tenho as manchas e arranhados que os tijolos causaram nos meus sapatos vermelhos. Tenho o DVD, tenho as fotos, tenho algumas músicas.. Tenho meu Orgulho e Preconceito, que a Clara lia em cena. Na primeira folha dele, não tem meu nome. Tem o de Clara. Por mais que eu ame o livro, ele sempre foi muito mais dela que meu. Ele se sujou de tijolos, e tem a lateral meio cor-de-telha. Eu amo.

No dia da estreia, eu deixei cair na primeira folha uma margarida. Deixei ela lá, sem preocupação nenhuma… Durante todas as apresentações o livro continuou na escola, jogado dentro da nossa caixa de acessórios. Eu tirava o livro de lá, fazia a peça, e arremessava lá de novo. E qual não foi sendo a minha surpresa quando, dia após dia, eu abria o livro e lá estava minha margaridinha. Acabou a peça, eu trouxe pra casa, e lá estava minha margarida. Ainda branca. O tempo foi passando, e a margarida continuava lá, e eu comecei a achar aquilo tão lindo, que nunca mais ela poderia sair de lá. O livro foi emprestado, passeou por aí, voltou pras minhas mãos, e a margarida? Lá. Perdi o livro no meio dos outros e quando achei, a margarida estava lá. Resolvi tirar os meus livros do meio da bagunça da estante do corredor de casa. Trouxe pro meu quarto, e arrumei milimetricamente na estante. Coloquei Orgulho e Preconceito na frente de todos. A Margarida? Lá. Agora que o livro tinha lugar fixo e arrumadinho, na frente de todos, minha margarida estaria a salvo.

Não sei o que aconteceu. Sei que hoje eu fui fazer minha conferência mensal de margaridinha. Subi na cadeira, abri o livro, e minha margarida não estava lá. Já pedi pra São Longuinho, já segurei o choro, já aumentei a oferta pra São Longuinho, já vasculhei a estante.. Minha Margarida. Que estava tão impregnadinha no livro que já era marrom, ao invés de ser branca. Minha margaridinha linda, tão parte do livro, que no dia 24 de junho eu ia tirar uma foto pra marcar 1 ano da estreia. 1 ano da emoção mais linda que eu já senti na vida (e olha que já senti MUITAS). Mas hoje, faltando quase 1 mezinho só, eu abri o livro e a minha margaridinha não estava lá. Provavelmente, escorregou, contrariando todas as minhas expectativas, já que a florzinha já tinha sobrevivido a tantos programas mais radicais que ficar simplesmente paradinha na minha estante. Imagino que minha faxineira deve ter achado a florzinha, marrom, tão frágil, em cima da estante, perto do livro. E imagino com muita dor no coração que ela deve ter achado que era sujeira e trucidado a minha florzinha. A florzinha que, escolhida ao acaso, não foi despedaçada no eterno bem-me-quer/mal-me-quer da dona Clara. A Margarida que foi parar inteirinha dentro do livro, e eu nem sei como. Minha florzinha sobrevivente. A única que tinha sobrado, dentre os 4 vasos que eu usei entre ensaios e apresentações.

Desisti de segurar as lágrimas. A imagem da minha faxineira trucidando a flor da Clara foi forte demais pro meu coração cheio de lembranças. Sei que eu não vou esquecer. Antes, quando eu lembrava, meu coração ficava quentinho, e eu corria abrir o livro e matar as saudades dela. Agora, toda vez que eu lembrar, vou ter que abrir o livro e encarar o buraco de página em branco onde por quase 1 ano ficou guardada a minha margaridinha. A Margaridinha de Clara. A florzinha mais linda que eu já vi na minha vida.

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Sobrou uma pétala. Meu consolo.

No meu Pequeno Dicionário da Saudade guardei uma expressão que alguém disse uma vez, sobre “saudade ser o amor que fica”. Que saudade daquela peça! Que saudade da minha flor.

11 comentários:

  1. AAAAAHHHH MIMIMIMIMI A MARGARIDA DA CLARA NÃAAO!!!! Surtei quando recebi tua mensagem... eu era tão orgulhosa por ter ficado dois meses com o livro e tê-la devolvido intacta! Não posso crer! Que absurdo :(( Não sei como te consolar, meu amor... Nenhuma margarida será como aquela e isso é tão triste! Saudade pode ser tão triste as vezes! Ai Aninha linda flor do meu coração, que a falta dessa margarida signifique que você não precisa de objeto algum para lembrar-se da Clara, pois ela faz parte de você e assim sendo quando encontrá-la em sua memória, lembre-se de seus momentos juntas e sorria. A Margarida foi, mas a Clara sempre estará contigo. Sempre! Não deixe ela partir!
    E do mais... encherei-lhe de abraços na sexta-feira, tá? Aiiiinnn ))):
    E pode chorar que a saudade merece!
    <3

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  2. Sabe, margaridas são minhas flores favoritas. E estou carregada de margaridas, dos pés à cabeça. Porque são joviais e alegres. E possuem romance na medida certa. E me divertem. E, se por ventura alguém que estiver lendo este comentário que posto pra vc, menininha dos possíveis cachinhos dourados, quiser me dar flores: margaridas!
    Mas existem aquelas margaridas que não são memória. São lembrança. E, por serem lembrança, não precisam mais estar corporificadas naquelas belezinhas acetinadas e brancas. Elas fazem parte da alma, porque seu cheiro, sua textura, seu toque já ficou guardado no cuore.
    "Nossa" margarida já virou lembrança que aquece teu caminho. Não chore. Ela se tornou eterna!
    Um beijo imenso pra vc, moça. Minha amiga querida. Minha menina sedenta de vida. Minha aluna. Minha querida!
    No MEU pqno dicionário da saudade, vc é um dos capítulos. Hoje e sempre!
    Tia Airen.

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  3. Morri com isso: "Mas existem aquelas margaridas que não são memória. São lembrança. E, por serem lembrança, não precisam mais estar corporificadas naquelas belezinhas acetinadas e brancas. Elas fazem parte da alma, porque seu cheiro, sua textura, seu toque já ficou guardado no cuore." que a Airen disse! E concordo plenamente!

    Beijo, Aninha!

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  4. Oi,

    eu tbm sou uma pessoa que gosta de guardar as coisas pra um tempo depois olhar tudo de novo... Tenho até uma caixa onde guardo coisas importantes.

    Pena vc ter perdido sua florzinha...

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  5. Amor de Analu, não fica triste. Ainda virão muitas margaridas na tua vida.
    Não pensa que ela foi jogada fora, não. Só vai te deixar mais pra baixo.
    Beijo amore mio.
    Te amo. <3

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  6. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA MIMIMIMI As margaridinhas da Clara DD: Calma amiga, eu sempre penso que se eu perdi alguma coisa que eu gostava muito e que, de alguma forma me protegia, é porque alguém precisava mais dela do que eu! Então, vai que sua margaridinha não voou pela janela do seu quarto? *-*
    Fica triste não!
    Te amo!

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  7. Seus dois primeiros parágrafos ficaram fodas. Gostei do texto por completo e lamentei a perda da margarida, mas o começo do seu texto, eu me sinto na obrigação de publicar no meu facebook. Amei!

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  8. Ah, que lindo! Acho lindo seu amor por essa peça, mas ele me mata de raiva por todas nós não termos estado em nenhuma apresentaçãozinha dela. :( Tenho certeza de que sua Margarida estará sempre contigo, de qualquer jeito.
    E, HÁ! Super te entendo. Sempre que viajo, guardo pequenas coisas, como tickets de metrô, pra posteridade. Fica tudo numa caixinha aqui no meu quarto... e é uma delícia sentar e mexer nela, assim, do nada, às vezes. <3

    Beijos, Analu!

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  9. Engraçado, também penso como você sobre lembrança e memória. E sim, lembrar é sentir de novo, ver de novo, viver de novo. Também sou apegada às minhas revistas Capricho da adolescência. Gosto das minhas caixinhas cheias de tranqueiras que me fazem voltar ao passado. Tem gente que diz que pessoas como nós são apegadas demais ao que já foi. Sei lá, eles é que estão perdendo.

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  10. põ chefia! QUe pena )):
    acho um charme essas flores secas que a gente acha por acaso dentro de algum livro, ou uma caixa! Sempre me perguntou quem deu, pra quem deu e porque, qual era o sentimento por detrás desse gesto tão singelo!
    E tu consegue fazer poesia até das coisas mais simples, uma pétala, pra te lembrar da textura, do cheirinho, da delicadeza... mas ó, hei de concordar com a tua famosa mestra ali em cima viu? E achei legal essa distinção entre lembrança e memória, me deu muito o que pensar :P

    beijos flor!

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  11. Fiquei morrendo de dó da margaridinha perdida =( Ai, eu sei como essas coisas significam pra quem acredita no significado delas. E se eu fosse você, nem teria segurado o choro.

    Mas achei tão bonito ter restado uma pétala. E você guardar todos os souvenirs da peça. Porque, poxa, nós sabemos o quanto foi importante pra você. O quanto foi PARTE de você.
    Fica tranquila que as lembranças ninguém pode te tirar.

    E eu preciso reler Orgulho e Preconceito em uma edição decente pra ficar tão apaixonada quando a Clara.

    Te amo muito!

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